terça-feira, 10 de novembro de 2009

Nas nuvens de Porto Velho (por Murilo Menezes)




Hoje, literalmente, fiz um fantástico vôo até as nuvens.


Mesmo já avançando o mês de Março, Porto Velho ainda sofre com um rigoroso inverno, com muitas chuvas, tempo permanentemente nublado, e um ar melancólico que é característica só do mês de Dezembro.

As nuvens, relativamente baixas, carregadas e naquele tom cinza escuro, era prenúncio de mais chuvas para aquele final de tarde e isso significava que não se poderia afastar muito da pista sob o risco de, no retorno, não termos condições de pouso.

No final da tarde, decolei querendo manter uma prudente proximidade da nossa área, mas fui sentindo o irresistível desejo de tocar aqueles "tufos" que estavam relativamente baixos. Veio a rápida decisão. Mesmo não sendo prudente, eu resolvi que iria tocar as nuvens.

Mas, apenas chegar não foi suficiente. O vento frio, brincando com o ultraleve, foi mais um estímulo para aguçar a curiosidade daquele "gafanhotinho" impertinente e abusado: - um pouquinho mais de potência, mancho cabrado e lá ia eu , sem pedir licença, adentrando o interior daquela massa vaporosa e desconhecida.

Sentir na pele aquele vapor úmido com um gostoso aroma de mato, como se todas as fragrâncias de nossas florestas estivessem ali reunidas para perfumar a terra, era encantador e assustador. Vez por outra passava por "rachaduras" que me permitiam ver, de forma mais nítida, o verde das pastagens 1.500 pés abaixo.

Adrenalina a mil - ela não saía, ela esguichava pelos poros. Mas foi maravilhoso. Uma sensação totalmente diferente de tudo o que se possa esperar de um vôo de ultraleve.

Sabia que não era o vôo próprio dos aviões já que, nas nuvens fechadas, pode-se perder a orientação espacial e virar de dorso, entrar em curva e outras mazelas mais. Só que aquela era uma nuvem especial, feita sob medida para se brincar com aqueles "tufos" soltos e vaporosos que me permitiam sentir a emoção sem perder a orientação visual e o controle espacial.

Sentir o verdadeiro "estar nas nuvens" é o sublimar do vôo.


Murilo Menezes

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